A população brasileira está ficando cada vez mais gorda. Pelo menos 64% dos brasileiros lutam com a balança, sendo 48,5% com excesso de peso e 15,8% com obesidade. A proporção de pessoas acima do peso no país aumentou 5,8 pontos percentuais de 2006 a 2011, enquanto o percentual de obesos subiu 4,4 pontos no mesmo período. Os números foram divulgados ontem pelo Ministério da Saúde, que realizou de janeiro a dezembro do ano passado a pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), com 54 mil adultos em todas as capitais. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reconheceu que a situação preocupa:
— Agora é a hora de virar o jogo para não chegarmos a países como os Estados Unidos, que tem mais de 20% de sua população obesa. Temos que ter maior oferta de produtos industrializados saudáveis. No tocante aos supermercados, por exemplo, o objetivo é tornar alimentos saudáveis mais visíveis.
Enquanto o Brasil tem 15,8% da população obesa, o Chile tem 25,1%, a Argentina tem 20,5% e os EUA, 27,6%. Segundo Padilha, o foco do combate ao problema ficará nas crianças e adolescentes. Embora os homens estejam mais acima do peso do que as mulheres, o problema atinge ambos os sexos. Os quilos extras começam a se acumular ainda na juventude, e a questão se agrava à medida em que a idade avança. Entre os homens, o excesso de peso atinge 29,4% dos que têm entre 18 e 24 anos, 55% daqueles com 25 a 34 anos e 63% dos homens de 35 a 45 anos. Já entre as mulheres, 25,4% das jovens de 18 a 24 anos estão acima do peso. A proporção aumenta para 39,9% entre mulheres de 25 a 34 anos e chega a 56% dos 45 aos 54 anos.
— Quem não tinha poder de compra e hoje tem, em vez de escolher uma fruta, compra salgadinho. Para mudar este padrão de consumo, é preciso fazer uma campanha muito forte nas escolas, na indústria e também junto às famílias — comenta a presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), Rosana Radominski.
Dieta tem excesso de gordura e açúcar
De fato, os hábitos alimentares dos brasileiros estão longe do recomendável. Apenas 30,9% consomem frutas e verduras cinco ou mais vezes por semana, como indicado pela Organização Mundial da Saúde. Para piorar, 34,6% comem carnes gordas e 29,8% tomam refrigerantes frequentemente. A boa notícia é que o velho clássico da cozinha brasileira continua presente na mesa: 69,1% comem feijão cinco ou mais dias na semana. O grau de escolaridade também influencia os hábitos alimentares: frutas e hortaliças estão presentes no cardápio de 44,5% das pessoas com 12 anos de estudo ou mais. O percentual cai para 27,5% entre quem estudou até oito anos.
A persistirem as tendências reveladas pela pesquisa, teremos nos consultórios de oncologistas mais casos de cânceres de rim, intestino, pâncreas, vesícula, endométrio, mama e esôfago, estima Fábio Gomes, nutricionista da área de Alimentação, Nutrição e Câncer do Instituto Nacional do Câncer. Estas doenças estão relacionadas com alimentos com alta densidade energética, como biscoitos recheados, e bebidas açucaradas. Além disso, o excesso de peso e a obesidade são fatores de risco para diabetes e doenças cardíacas.
O comportamento que precisa mudar, no entanto, não está só à mesa. O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Airton Golbert, encontra mais culpados. Ele destaca, por exemplo, a violência urbana, que deixa crianças e adultos por mais tempo em casa.
— As crianças antes brincavam em terreno baldio a qualquer hora, hoje têm dia certo para se exercitar na aula de esporte.
O estresse e a queda da qualidade do sono também fazem as pessoas comerem mais e pior, mostram estudos recentes.
— Trata-se de uma batalha que estamos perdendo. A vida moderna tem fatos, facilidades e comodismos que fazem as pessoas se mexerem menos, ficarem mais tempo em frente à TV e ao computador — pondera o endocrinologista Alfredo Halpern.
Apesar dos resultados, o brasileiro demonstrou estar mais ativo. No ano passado, os totalmente sedentários eram 14% . Há três anos, número chegava a 15,6%.
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