quarta-feira, 18 de maio de 2011

Jovens por mais tempo

Até 2050, a expectativa de vida dos brasileiros, hoje de 71,7 anos, deve, conforme o IBGE, aumentar em uma década – alcançando um índice semelhante ao dos japoneses (que, por sua vez, terão atingido uma expectativa de 85 anos). No passado, a curva ascendente da longevidade devia-se sobretudo a progressos básicos, como o acesso universal a vacinas ou à água tratada. A ascensão dos próximos anos será produzida por um fenômeno muito mais complexo – o progresso da medicina em novos campos, como o da prevenção de doenças pela análise do DNA, cirurgias até agora tecnicamente impossíveis e pesquisas que determinarão com precisão o papel da má alimentação no surgimento de determinadas doenças.
O papy boom, nome dado ao choque demográfico que o envelhecimento da população provocará nos próximos anos (numa contraposição ao baby boom pós-II Guerra Mundial), terá um impacto ainda não equacionado na economia, afetando o futuro dos sistemas de aposentadoria. Se é difícil prever como a sociedade sustentará os aposentados de 2050, é bem mais fácil concluir sobre a situação de saúde que eles terão: estarão em condições físicas bem melhores que os das gerações anteriores. Festejar o centésimo aniversário, privilégio atualmente de apenas 0,01% da população brasileira, será regalia para uma parcela bem maior em 2050. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de centenários no mundo chegará a 2,2 milhões, quinze vezes mais do que o registrado atualmente. O Brasil deve alcançar a nona posição nesse ranking.
É justamente com os centenários que os pesquisadores vêm descobrindo lições preciosas sobre os fatores decisivos para uma vida prolongada e saudável. O papel da genética está cada vez mais bem estabelecido. Após estudar 400 pessoas com mais de 95 anos e seus descendentes, o médico israelense Nir Barzilai, diretor do Instituto para Pesquisa do Envelhecimento da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York, analisa a influência dos genes na probabilidade de ultrapassar os 80 anos. "Uma vez que esses centenários estudados não tiveram doenças relacionadas à idade, como diabetes ou distúrbios cardiovasculares, suspeita-se que eles possuam variações genéticas que os ajudem a ultrapassar a barreira dos 100 anos", afirma Barzilai.
Os estudos indicam que, até os 80 anos, muitos fatores individuais influem na longevidade; depois dos 80, a genética é fundamental. Para o médico brasileiro Angelo Bos – diretor de um estudo do Instituto Nacional do Envelhecimento, uma agência federal americana –, a biologia molecular tem ajudado a entender a predisposição genética de algumas pessoas a desenvolver doenças que afetam a saúde e a longevidade. Entretanto, a chave do envelhecimento bem-sucedido, com qualidade de vida, não está na ausência de doenças, e, sim, na preocupação que o indivíduo tem com a manutenção do bem-estar desde a fase adulta.
"A partir de uma certa idade, a genética pode ser determinante, mas a vida social e os exercícios físicos e mentais ao longo do tempo influenciam na chegada a esse ponto e, depois, na caminhada até os 100 anos com lucidez e disposição", diz o médico americano Roy G. Smith, responsável pelos estudos do envelhecimento na Faculdade de Medicina Baylor, em Houston, no Texas. Smith pesquisa proteínas presentes no cérebro e na hipófise que, reativadas na velhice, parecem ter efeito positivo sobre a memória, o aprendizado e o humor. Isso ajudaria a explicar a relação apontada em vários estudos, mas ainda não comprovada cientificamente, entre um estado de espírito jovial e uma vida longa, e pode teoricamente desembocar em medicamentos que devolvam ao sistema nervoso central parte do vigor da juventude. "Um tratamento com essas pequenas moléculas poderá ser uma maneira eficaz de retardar o envelhecimento, evitar doenças ou, por exemplo, melhorar a tolerância do corpo a uma quimioterapia", afirma o pesquisador.
Se no processo do envelhecimento cerca de 70% das interferências estão relacionadas a fatores ambientais e 30% aos genes, segundo o médico Emílio Antônio Jeckel Neto, especializado em biologia do envelhecimento da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, as descobertas recentes não invalidam a importância dos conhecimentos já estabelecidos sobre o estilo de vida para quem deseja retardar o processo de envelhecimento e prevenir câncer e doenças cardíacas: atividades físicas regulares e moderadas; hábitos saudáveis como não fumar; e, sobretudo, uma alimentação balanceada e – literalmente – colorida. "Deixando de lado o fator genético, a alimentação é a principal responsável pela longevidade e pela qualidade de vida na terceira idade, seguida pela atividade física regular", explica o geriatra e nutrólogo Nelson Iucif Júnior, diretor clínico da Associação Brasileira de Nutrologia.
As dietas da moda, que elegiam grupos inteiros de alimentos como vilões, vêm perdendo prestígio. Hoje, os especialistas recomendam não descartar carboidratos, gorduras e proteínas. O mais importante é a moderação. "Parece que comer pouco prolonga a vida, principalmente quando conseguimos aliar qualidade nutricional e prazer no que comemos", afirma a nutróloga Ellen Simone Paiva, diretora-clínica do Centro Integrado de Terapia Nutricional. Essa é a tese por trás de best-sellers recentes, como As Mulheres Francesas Não Engordam (editora Campus/Elsevier). Segundo a autora, Mireille Guiliano, o segredo para comer de tudo sem culpa e não engordar é dar ênfase ao frescor dos alimentos, à variedade, ao equilíbrio, à quantidade das porções e, principalmente, ao prazer de sentar-se à mesa e apreciar uma boa comida ou um bom vinho. "As francesas não são neuróticas e não seguem regimes radicais. Mudar hábitos pode ajudar qualquer um a viver em forma e com saúde", diz Mireille, que vive nos Estados Unidos.
Todos esses cuidados não dispensam a prevenção com exames e consultas. "Não basta saber o que causa doenças. Deve-se procurar não estar doente. As pessoas às vezes acham que são imunes, inclusive os médicos", diz o professor Jarbas Dinkhuysen, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Avaliações do coração, por exemplo, são indispensáveis a partir dos 40 anos, e até antes, se houver histórico familiar. O mesmo se aplica a várias outras doenças.
 
A AGENDA SAUDÁVEL
Exames preventivos podem ser decisivos para prolongar a vida com qualidade. Abaixo, uma lista dos principais check-ups periódicos. Em todos os casos, porém, é o médico que deve determinar quais os exames e qual a freqüência deles para cada paciente
PARA ELES
Antes dos 40 anos
• Devem-se fazer auto-exames testiculares – esse tipo de câncer é mais comum até os 35 anos
A partir dos 40 anos
• Eletrocardiograma e teste de esforço anuais, para prevenir o infarto
• Exame de próstata, caso haja histórico de câncer na família

A partir dos 50 anos
• O exame periódico da próstata é indispensável

PARA ELAS
Até os 40 anos
• Visitas anuais ao ginecologista. O exame papanicolau, em mulheres que já tiveram relação sexual, permite descobrir um câncer do colo uterino
• A partir dos 25 anos, mulheres com histórico familiar de câncer de mama devem fazer mamografias periódicas
A partir dos 40 anos
• Recomendam-se mamografias anuais, eletrocardiograma e teste de esforço para o coração – as mortes por infarto têm aumentado entre mulheres
• A cada dois anos, pelo menos, uma densitometria óssea deve investigar o risco de osteoporose

PARA AMBOS
Até os 50 anos
• Controlar a cada três anos a pressão arterial (ou anualmente, se houver histórico familiar que o recomende)
• A cada dois anos, exame de sangue para medir colesterol, triglicérides, glicemia, glóbulos brancos e vermelhos; exame de urina e provas hepáticas
• Exames periódicos da visão
50 anos
• Controle anual da pressão
• Exame de sangue oculto a cada quatro anos, pelo menos
60 anos
• Além dos exames acima, vacinas contra a gripe e outras doenças respiratórias

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