A alimentação rica em frutas, verduras, grãos e carnes vai além dos benefícios para a saúde física do indivíduo e pode até trazer felicidade. É o que mostra uma pesquisa recente que avaliou 80 mil britânicos e constatou um aumento do bem-estar mental proporcional ao consumo de frutas e verduras. O pico de “satisfação” foi identificado entre aqueles que consumiam diariamente sete porções de 80 gramas cada. A partir deste resultado, os pesquisadores sugeriram mudanças nas diretrizes gerais de saúde dos EUA e Reino Unido, que atualmente orientam o consumo de cinco porções na alimentação diária. Eles defendem que o mesmo poderia valer para os demais países.
— Os dados usados no estudo foram coletados da dieta dos britânicos. Apesar dos contextos culturais, nossa biologia não difere tanto da de outros povos, principalmente dos ocidentais — comenta Sarah Stewart-Brown, professora da Escola de Medicina de Warwick e uma das autoras do artigo publicado no periódico “Social Indicators Research”.
Mente e corpo sadios com boa alimentação
Em linhas gerais, a dieta da felicidade é a mesma receita equilibrada recomendada para a saúde física e inclui proteínas, fibras e vitaminas. Mas se a dieta é similar, a atuação dos nutrientes no organismo é bem diferente, já que o foco de ação passa a ser o cérebro.
— O sistema nervoso central comanda todas as nossas funções e, ao contrário do que pensamos, é o único órgão que não tem uma reserva significativa de energia — explica a nutricionista Denise Carreiro, autora dos livros “Alimentação e Distúrbios do Comportamento” e “Cálcio na forma, na medida e no lugar certo”. — Para a nutrição, o cérebro, apesar de todas as suas características diferenciadas, é mais um órgão do corpo que necessita ser adequadamente nutrido. O sistema nervoso central não é um sistema independente. Ele trabalha em total simbiose com os sistemas gastrointestinal e imunológico, dependendo dos nutrientes que são absorvidos pelo intestino.
Os neurotransmissores regulam o humor e o comportamento e precisam ser alimentados para funcionar bem. A falta de nutrientes para funções cerebrais pode provocar comportamentos compulsivos, ansiedade, cansaço mental e irritabilidade.
Um dos principais neurotransmissores do bem-estar é a serotonina, formada por um aminoácido chamado triptofano, presente em peixes, carnes, ovos e outras fontes de proteína. Já o ácido gama aminobutírico (gaba) ajuda a manter a atenção, além de ser um calmante. Ele está presente no L-theanina, um aminoácido encontrado no chá verde, assim como em vitaminas, como a B12, presente nas folhas verde-escuras.
O ômega 3, presente em peixes como salmão, atum e bacalhau, e também em vegetais, como brócolis, rúcula e couve, é um estabilizador de humor e mantém a boa comunicação cerebral e de todas as células do corpo.
Menos açúcar e conservantes na alimentação
Evitar produtos industrializados — que, em geral, contêm poucos nutrientes, muitos aditivos químicos e neurotóxicos — e o consumo exagerado de açúcar são duas orientações de dez entre dez especialistas de nutrição e humor. Já refrigerantes e sucos artificiais não possuem valor nutricional e ainda contêm substâncias que inibem a absorção de nutrientes.
— Os níveis de glicose no sangue flutuam um pouco durante o dia, mas ingerir muitos carboidratos ou produtos com excesso de açúcar pode desequilibrar esses níveis de maneira extrema, o que influencia o humor — explica a nutricionista Patricia Davidson Haiat, professora de pós-graduação em terapia nutricional da Uerj e membro do Institute for Functional Medicine.
Patricia afirma ainda que o tradicional mau humor matinal vai muito além da vontade de continuar na cama:
— Após um jejum noturno de muitas horas, os níveis de glicose estão baixos. Alimentar-se com muito pão ou açúcar faz com que eles subam rapidamente, provocando a alteração de humor. Para evitar isto, é importante modular o consumo de carboidratos com fontes de boas gorduras, como nozes, amêndoas e proteínas, por exemplo, ovo e frios magros.
Para a especialista, a adoção de uma dieta equilibrada pode ser o suficiente para até dispensar o uso de medicamentos:
— Os remédios para humor, depressão e compulsão no mercado trabalham justamente na produção de neurotransmissores. Sendo assim, claro que os nutrientes vão ter papel chave nestas desordens, já que são matéria-prima para a produção de todos os neurotransmissores cerebrais — afirmou Patricia.